Na terra onde vivos não há sem abrigos. Há pessoas com casas em muito mau estado, há barracas sem condições higienicas, sem espaço para albergar tantas pessoas, mas as pessoas têm pelo menos um tecto. Há muitas necessidades encobertas, há muitas barrigas que não mal se compõem com um pão ou uma sopa.
Noutra terra onde às vezes também vivo, que por acaso é uma cidade do norte do país, há sem abrigos. Alguns. Talvez muitos. Ontem, já de noite, estava a passar por um banco, não importa aqui a instituição, e estava um desses sem abrigos, enroscado numas matas e cartão, a comer uma sopa. Ao abrigo, a amparar-se do frio, só por aqueles instantes. Umas horas depois, quando voltei, já lá não estava e só aí é que caí em mim. Talvez devesse ter feito algo para o ajudar, nem que fosse numa módica quantia, para, sei lá, conseguir tomar um pequeno-almoço decente.
Porque a Grândola é tanto terra de igualdade como de fratenidade.