domingo, 19 de fevereiro de 2012

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Dia de domingo.



Amanhecera vazia, sem ninguém dentro de si mesma, e foi como se encheu com a ideia de afinal ser impossível esquecer o amor. Porque o amor era espera e ela, sem mais nada, apenas esperava. A Isaura sabia que amava alguém por vir, amava uma abstracção de alguém no futuro. Ela esperava o futuro, e esperar era já um modo de amar. Esperar era amar. Certamente, amava de um modo impossível o futuro. Disse: eu pensava que o amor era bom. E chorou sem qualquer convulsão porque aceitou chorar. Aceitou chorar. Havia muito que não o fazia. Talvez tivesse percebido que a natureza era, toda ela, uma expressão exuberante e que manifestar os seus sentimentos seria uma participação ínfima nessa honestidade do mundo. Talvez tivesse percebido que usava a honestidade consigo mesma pela primeira vez em muitos anos. Disse: estou sozinha. E repetiu: estou sozinha. Desatou a falar como se não suportasse mais a boca fechada.

O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe


Apaixonante da primeira à ultima palavra. "Nunca limites o amor."

leaf*

1 comentários:

Alice disse...

Estou a ver que também gostaste.

acho que é um livro bem diferente de outros autores. nem consigo descrever.

Boa semana

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